QUEM EU SOU?
Uma
espécie de Vasco da Gama da política eleitoral brasileira. Tive uma história
linda, de vitórias, de defesa da classe trabalhadora e de luta pela liberdade.
Vice por duas vezes consecutivas, acabei rebaixado por um golpe civil-militar em
1964 e nunca mais voltei a ser o mesmo.
VAI DEVAGAR QUE SINTO CÓCEGAS:
Achei
que as notícias sobre a exumação (prevista para 13/11/2013) do meu cadáver deixariam
a nação de joelhos, paralisada, à espera dos próximos acontecimentos. Não se
trata de imodéstia. As circunstâncias da minha morte e tudo que ela envolve são
mais interessantes do que a maioria das novelas e seriados à la mode. Imaginei que pelo menos os fãs de House of Cards e The Walking Death demonstrariam algum
interesse. Se alguma revelação vier a público no mesmo dia em que, por exemplo,
um Pato qualquer perca um pênalti, creio que a repercussão não passará de
alguns retuítes. Eu terei sido submetido a cócegas com luvas de látex por nada.
O
episódio fica mais interessante com os personagens ao redor da trama principal.
Chamaram um perito cubano em exumações. O mesmo sujeito que exumou Che Guevara.
Passei minha carreira política inteira tentando convencer os brasileiros de que
não era comunista. Aí vão me exumar e chamam um cubano? Que beleza, heim,
camaradas? O PCB não teria feito melhor. Ah, e espero que ele não seja
hostilizado no aeroporto nem seja forçado a se exilar em minha cova. Aliás,
cabe a pergunta: não há peritos no Brasil? Pelo jeito, o governo está
precisando criar, também, o programa Mais Exumadores.
Apesar
da concorrência desleal com os concursos de Miss Bumbum e a reta final do
brasileirão, penso que a exumação significa uma chance de volta à mídia. Tinha
uma carreira promissora nos anos 1960, mas fiz escolhas erradas. Em primeiro
lugar, em 1961, quando Jânio renunciou, deveria ter fingindo que não era comigo
e ficado comendo uns yakissobas com o Mao na China. De repente, teria criado
por lá uma estatal chinesa da construção civil, a Reforma de Bases S.A, ou a
Trienal S.A junto com o Celso. Enterraríamos a concorrência e estaríamos em
tudo quanto é loja de piso no mundo hoje em dia.
Mas
o que mais me arrependo é do Comício da Central. Foi um erro de planejamento
estratégico, vulgo: calor do momento. Pra começo de conversa, falando em
exumação de cadáver, o Serra, então presidente da UNE, discursando, só podia
ser um mau agouro. Além disso, deveria ter colocado uns artistas se
apresentando. Uns medalhões da MPB pros coroas, um Teatro Mágico da vida pra
galera mais jovem e até uns padres cantores ou umas atrações da música gospel.
Quem sabe não era uma maneira de impedir o toque alto do clarinete. Com sorte
seria o suficiente pra evitar a Marcha da Família com Deus pela Liberdade e algumas cócegas.
Aos queridos: Celso Furtado, Knijnik e Cal.
Assinado: JanGO§
Vixi....rs
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