A Retórica Nua tem como principal função expor alguns de meus pensamentos, idéias e textos nem um pouco acadêmicos. O objetivo é a diversão e a liberdade"nua e crua" de se escrever qualquer coisa. Sejam Bem vindos e Boa Leitura!

sábado, 17 de março de 2012

Quem tem medo da liberdade?



Nascemos livres. Entretanto, a sociedade e nós mesmos criamos enumeradas cadeias e limitações para nós. Mas, dentro de nós, dependendo de nossa própria vontade, podemos ser “livres”, mesmo que aprisionados por grilhões sociais ou imaginários.
Se a palavra "liberdade" é uma ânsia tão profunda de nosso léxico e ser, ela não significa como tantos pensam, fazer qualquer coisa, como, quando e onde quiser. Isto tem um nome: licenciosidade (ou libertinagem!).
A liberdade liga-se ao poder de decisão, de escolha. Este é o bem que não conseguimos admitir que alguém nos tire.
Todos temos um projeto fundamental de vida e queremos ser livres para realizá-lo. É nesta execução que exercitamos a liberdade porque o caminho sempre terá percalços, encruzilhadas etc. que nos obrigará a renúncias, em outras palavras, nos dará um número incontável de oportunidades de "decidir" o que fazer para perseguirmos nossos ideais.
Parece contraditório, mas muitos de nos tememos a liberdade. Não sabemos o que fazer com ela. Preferimos, muitas vezes, sermos escravos. Isto pelo fato do outro lado da moeda nos exigir a tão temerosa palavra: "responsabilidade". A Liberdade é um espaço de vida e ao mesmo tempo um espaço em branco, onde devemos agir, querer, pensar, realizar. E isto assusta!
Devemos lembrar que o sentido mais profundo da questão da liberdade é que, se ela não existisse, o homem se misturaria com a natureza, não se diferenciando das demais coisas, pois estaria inteiramente submisso ao determinismo. Ser-sujeito é ser-livre: somente com base nesta idéia é que se pode entender a liberdade da ação humana.
O homem pertence a si mesmo, é um “eu”, uma pessoa; por conseguinte, só pode ser compreendido como autônomo, com certa independência de ser.
É lógico que não existe e nem pode existir uma liberdade absoluta, porque o sujeito não é uma subjetividade isolada: o “eu” se põe em relação, existe, é intencional, é situado. Como auto-afirmação, o “eu” é a possibilidade do ser.
Sartre exprime a prioridade da ação humana e, portanto, sua liberdade pela caracterização do existencialismo: “A existência precede a essência”. O filósofo não deixa de ter razão, pois o homem não é uma coisa e, portanto, há uma prioridade de sua subjetividade, que implica, logicamente, na liberdade e no livre-arbítrio.
Para Sartre o mundo real da liberdade se distingue do mundo sonhado. Principalmente, porque toda fixação livre de fins realiza-se numa situação particular e toda escolha se faz em função de certo passado. O sujeito, como liberdade, só ocorreria, pois, envolto em uma determinada “facticidade”, que representa as limitações para o projeto de vida.
Ser livre, nem sempre significa “alcançar” o ideal, mas auto-determinar para querer e escolher. Daí se conclui que Sartre concebe o sujeito como intencionalidade, assim como livre os seus projetos, execuções e ações.
Toda escolha é uma “decisão” (sic!!!) sobre opções diversas dentro de certas circunstâncias. A ação livre do homem, significa que ele sabe o que faz, supõe que esta ação precede de uma decisão.
Agir humanamente implica agir com liberdade, assim ela vai nos aparecer, também, como dever, algo que, de qualquer forma, deve ser conquistado para que sejamos plenamente humanos.
Para relembrarmos, então, da forma que já colocamos anteriormente, o “eu” é liberdade, rompendo com o determinismo, enquanto nada “determina” a sua ação como “humana”.
Aliás, o homem só pode realizar a sua humanidade quando luta para se desfazer do peso de qualquer “facticidade” que o escravize. A história da conquista da liberdade é eterna porque sempre uma forma de libertação faz surgir novas formas de escravidão.
Para Marx o trabalho é o que faz o homem ser homem. Isto acontece de fato, exatamente porque é no trabalho que o homem torna sua atividade objeto de sua consciência e vontade.
Contudo, a tecnocracia, característica de nossos dias, é uma série ameaça à liberdade. A técnica é um bem “em si” para o homem, mas a tecnocracia o escraviza. Ao escrevermos sobre ela, Heidegger nos alertou sobre o “esquecimento do ser”. A mentalidade tecnocrática cria novas formas de escravidão. E, como vivemos em uma sociedade tecnocrática, este é um tema que merece bastante reflexão (mesmo às 6 a.m). Até onde a técnica está ao nosso favor? Se os meios de produção da própria técnica estão nas mãos de poucos, até onde seremos realmente livres? Mudar, entretanto, o poder de mãos não significa, necessariamente, liberdade, como pensava Marx, porque as novas mãos podem ser de indivíduos também sequiosos por poder, sem sentimento de fraternidade. A liberdade, portanto, em nosso ponto de vista, só pode ser exercida pelo afeto.
Gostaríamos de concluir essa divagação (agora matutina) com um “grito” de Tarkovski que iniciou tudo isso: “Ai de nós, a tragédia é que não sabemos ser livres - pedimos para nos mesmos, em detrimento dos outros, e não queremos renunciar a nada de nós em prol do outro: isso significa usurpar nossos direitos e liberdade pessoais. Hoje, todos nós estamos contaminados por um egoísmo extraordinário e isso não é liberdade: liberdade significa aprender a exigir apenas de si mesmo, não da vida dos outros, e saber como doar: significa sacrifício em nome do amor.”