Caros
cidadãos, eu quero agradecê-los para a maior invenção de 2014: a máquina do
tempo. Nesse ano devemos, literalmente,
rasgar os livros historiográficos sobre o século XX e (re)vivenciarmos uma
experiência antropológica sobre todas as ideologias do século passado. Sabe,
sem tirar nem pôr... Mas vale até trocar de lado. Ou não?!?
É cidadão...Nicolas Kristof,
jornalista ganhador de dois prêmios Pulitzer escreveu: “o mundo precisa
urgentemente de pensadores críticos (e bem informados)”! Sim, raciocínio
crítico e informação estão em falta. Atualmente, ou até mesmo no século passado,
o mundo reincorporou o zoroastrismo e voltamos ao eterno debate do bem contra o
mal. Mas, nosso antagonismo está a cheira naftalina. A antiga naftalina que
nossos pais e avos depositaram no armário durante a Guerra-Fria foi reaberto,
simplesmente. É! Abrimos os velhos baús e voltamos a defender os “ismos” do
passado. “Ah... Mas é passado recente!”... Pior ainda: o que aprendemos com
todo o século XX? A lição não seria a desromantização dos “ismos” como o
fascismo, o nazismo e o comunismo? Ambos foram ditaduras e pior: nenhum “ismo”
acabou com a desigualdade e a corrupção.
Não estou acusando as gerações
passadas. Acusá-las seria desrespeitar todos os desejos e anseios de mudanças,
medos e frustrações que vivenciaram antes e durante a Guerra Fria. Estou
acusando a minha, a nossa geração: a geração pós-guerra fria. Estou nos
acusando de falta de presentismo. Nossa geração apresenta dois fatos
importantes para problematizar o século passado: uma perspectiva historicista e
experimentalista. Nós sabemos de todos os processos de causas e conseqüências dos
‘ismos’ e mesmo assim somos reacionários, carentes de idéias e ideologias
próprias de nosso tempo. Estamos, literalmente, nadando na naftalina.
Mais uma vez cidadão, chamá-lo de
reacionário não é ofensa, é fato. Além do mais, é um fato ingênuo. Agora vão
dizer que acreditar em um sistema político-econômico, ou governo militar é a
solução para TODOS os problemas... Sinceramente é muita ingenuidade! É uma
ingenuidade amalgamada ao mito do sebastianismo (desde quando general
presidente é sinônimo de honestidade administrativa?). Pronto agora esqueçamos
a naftalina e chamemos a galera da arqueologia: “Por favor, tragam o
carbono-14!”
Pensarmos
e endeusarmos um salvador da pátria, ou um modelo de governo “perfeito” é fugir
de nossas responsabilidades reflexivas e democráticas. É muito fácil copiar e
colarmos ideologias sem problematizá-las. É inocência política e social termos
apenas uma visão ideológica e uma formula certa contra a corrupção. A ideologia deve ser desprendida totalmente
de uma referencia totêmica e a História já provou, muitas vezes, que ideologias
dualistas (bom VS. ruim) causam uma patologia social grave: a falta de
alteridade. (Jango e Celso Furtado que o digam!)
Imaginem se presenteássemos com
nossa máquina do tempo os milhões de alemães e italianos que vivenciaram a
experiência nazista e fascista. O mesmo falo aos milhões de pessoas que
vivenciaram uma ditadura comunista. Será que eles fariam, exatamente, o mesmo? Será
que nossa geração precisa, mesmo, (re)aprender as conseqüências do pior jeito?
Hannah Arendt, uma filósofa alemã gritou a todos os cantos do século XX: "O mais radical revolucionário tornar-se-á um conservador no dia seguinte à revolução". Pena que não foi ouvida!
Sinceramente, se é para sermos reacionários, pelo menos, sejamos menos "ovelhinhas" e mais humanistas críticos e democráticos.
"A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos"
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